As palavras que me recuso a aprender

Naiara Leão
3 min readFeb 23, 2022

Nessa semana, saí de casa tendo pulado o café da manhã, parei na padaria e pedi um café com leite. Aliás, não! Pedi uma meia de leite. Ao que o atendente de balcão me respondeu: “Um galão?”. E a moça que operava a máquina de café gritou: “Um abatanado?”.

Morei por dois anos em Portugal e ainda me confundo com as nomenclaturas de café. Mas não por acaso.

Não

Devo ter ouvido todas essas palavras no primeiro mês, mas de alguma forma sempre evitei prestar atenção demais nelas, como se recusasse mesmo aprender. Pedir um café na pastelaria, digo, padaria, envolve sempre bastante gesticulação e descrições. “Sim, aquele que vem meio a meio, como é que vocês falam? Esse não, o outro.”

Por um tempo, dizia pra mim mesma que eu não tomo café com frequência e, portanto, aprender o vocabulário local era desnecessário. De volta a Lisboa há algumas semanas, decidi adotar a “meia de leite”. Mas sempre que digo isso, sinto um comichão interno, como se estivesse fazendo uma grande concessão.

Nesse dia, na padaria-pastelaria, percebi com clareza. Eu estava intencionalmente evitando essas palavras. Lembrei de um dia distante em que abri uma explicação num blog e logo fechei a página, antes que abatanados e afins entrassem na minha mente.

“Era como uma revolta particular. Não vou me fazer entender. Façam…

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Written by Naiara Leão

Nomad. PhD student of Religion, early Christianity and Women's and Gender Studies. Follow my IG @academicanomad

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