Por que o Cristianismo primitivo não existiu — e o que isso me ensinou sobre tolerância religiosa
Havia muito mais diversidade e conflitos entre os primeiros cristãos do que a Bíblia nos leva a imaginar.
Tendo passado boa parte da adolescência e alguns anos da vida adulta em igrejas evangélicas, sempre ouvi falar do Cristianismo primitivo como um ideal. Foi um momento em que, ainda impactados pela presença física de Jesus na Terra, seus seguidores exalavam inspiração. Vendiam o que tinham e repartiam os ganhos ou davam aos pobres e partiam na missão de espalhar o evangelho (as “boas novas” fresquinhas). Viviam em comunidade. Viajavam através de desertos inóspitos. Oravam em línguas (literalmente falavam línguas desconhecidas durante transe religioso). E nos bancos de igrejas pentecostais ouvi que deveríamos procurar sermos como os primeiros. Como os discípulos que ainda não haviam sido corrompidos pelo mundo. Como os que tinham entre si o fogo do Espírito Santo (metáfora para a realização de milagres, exorcismos e curas) mais vivo do que nunca. Como portadores de uma verdade ainda não desgastada pelo tempo.
Eu ouvi tanto estas descrições (baseadas no livro de Atos dos Apóstolos e em desenvolvimentos teológicos protestantes revivalistas) que acreditei. E pintei na minha mente um quadro maravilhoso das primeiras comunidades cristãs. Fogo. Avivamento…